A inauguração da primeira Sala de Acolhimento para filhos de estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), realizada na noite da última quarta-feira (19), é um marco histórico na Educação do Município de São Luís. Jovens e adultos, homens e mulheres, alunos do turno noturno na Unidade de Educação Básica (U.E.B.) Carlos Saads, na Vila Mauro Fecury I, que tinham dificuldades de concluir o ensino fundamental por não ter com quem deixar seus filhos, contam agora com um espaço totalmente estruturado para atendê-los enquanto assistem às aulas.
A iniciativa integra o programa “Escola que Acolhe”, da Prefeitura de São Luís, por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed), em parceria com a Fundação Vale e o Instituto Formação. “O projeto é uma estratégia da gestão do prefeito Edivaldo para ampliar o atendimento e melhorar a educação no município de São Luís, possibilitando a matrícula e permanência dos estudantes da EJA em sala de aula”, destacou o professor Moacir Feitosa, titular da Semed.
Moacir Feitosa informa ainda que outras duas salas de acolhimento, na U.E.B. Amaral Raposo, em Pedrinhas, e na escola Professor Nascimento de Moraes, na Cidade Operária, estão em fase de adaptação para serem entregues ainda neste ano letivo. “Estamos adequando os espaços, de forma apropriada, para que as crianças participem, enquanto seus pais estudam. De atividades lúdicas e recreativas, com jogos, brincadeiras e também acesso à literatura”, assinalou o secretário de Educação.
Da solenidade de inauguração da primeira sala de acolhimento da rede pública municipal de São Luís, estiveram presentes o Secretário de Educação, Moacir Feitosa; a Secretária Adjunta de Ensino (SAE), professora Maria de Jesus Gaspar Leite; o gerente de Relações Institucionais da Vale, Dorgival Pereira; a especialista em Educação da Fundação Vale, Andreia Prestes; a diretora do Instituto Formação, Regina Cabral; e lideranças da comunidade e da área Itaqui-Bacanga.
APROVAÇÃO
Com capacidade para receber até 25 crianças entre quatro e 10 anos, a Sala de Acolhimento da U.E.B. Carlos Saads teve sua estrutura física completamente adaptada, com mobiliários e materiais lúdico-pedagógicos adequados. A professora Áurea Borges, superintendente da área da Educação de Jovens e Adultos (Saeja/Semed), destaca que as educadoras das salas de acolhimento receberam formação específica para trabalhar com as crianças que serão acolhidas pelo projeto.
Uma dessas crianças é o filho da profissional autônoma Telma Moreira Viegas, de 38 anos, residente na Vila São Luís. Proveniente do interior do Estado, Telma começou os estudos muito tarde e logo engravidou – aos 19 anos – e teve que parar para cuidar dos filhos. Passou mais de uma década sem estudar, e só nos últimos dois anos decidiu retornar. “Estou concluindo o 9º ano do ensino fundamental, e depois quero fazer o ensino médio. Muitos não dão valor, mas eu gosto de estudar, e só parei porque não tinha com quem deixar meus filhos. Agora, vou deixar o de 8 anos com minha mãe e trarei o mais novo, de 6 anos, para sala de acolhimento”, comentou a estudante.
Quem também está concluindo o ensino fundamental na U.E.B. Carlos Saads, é Liana Moreira Pires, de 16 anos. Ela passou dois anos sem estudar por problemas de saúde, e, este ano, quase abandona a escola para poder cuidar do irmão mais novo, de sete meses, para sua mãe poder trabalhar. A solução foi cuidar da criança de dia e estudar à noite. “Este espaço é muito valioso para a comunidade, para as pessoas que deixaram de estudar e gostariam de retornar, mas não têm com quem deixar seus filhos. Todos os envolvidos nesse projeto estão de parabéns”, enfatizou a jovem.
Com o pequeno Davi Matheus Soares no colo, o estudante do 9º ano da EJA, Rian Soares, de 17 anos, diz que faltou a muitas aulas este ano, para poder cuidar do sobrinho. “Minha irmã trabalha o dia todo e, muitas vezes, chegava em casa já tarde, e não dava tempo de eu ir para a escola, pois sou eu que cuido dele durante o dia. Mas, creio que agora será mais tranquilo, pois se ela não chegar a tempo para ficar com o Davi, eu vou trazer ele para a sala de acolhimento”, comentou o jovem.
ENVOLVIMENTO DOS PARCEIROS
Dorgival Pereira, da Vale, parabenizou a iniciativa da Prefeitura e a parceria firmada. “É um orgulho para a Fundação Vale fazer parte deste projeto pioneiro no Estado”, destacou. Andreia Prestes assinalou a importância do programa “Escola que Acolhe” para o desenvolvimento do EJA na capital maranhense, enfatizando que o maior retorno para a Fundação é a contribuição para o desenvolvimento territorial.
O vigilante Daniel Estrela, representante dos pais no Conselho Escolar da U.E.B. Carlos Saads, destacou a carência da comunidade. “A maioria das mães não tem com quem deixar os filhos para estudar. Esta sala de acolhimento abre uma oportunidade única na vida de muitas famílias”, acrescentou.
A professora Áurea Borges conta que o projeto foi aprovado ainda no fim do primeiro semestre letivo de 2017, tendo sido feitas reuniões técnicas de planejamento com os parceiros envolvidos – Semed, Fundação Vale e também o Instituto Formação, órgão executor das formações do Projeto – e, em seguida, rodas de conversa com a participação de gestores, coordenadores e professores das três escolas selecionadas para a implantação do projeto piloto.
As rodas de conversa aconteceram na sede do Instituto Formação, no mês de agosto, tendo a participação da Coordenadoria Municipal da Mulher, que estará presente, em ações específicas nas salas de aula da EJA, para discutir com os estudantes temáticas de gênero e a condição feminina no contexto escolar.