João Victor foi o primeiro paciente beneficiado por um projeto do Hospital Santa Marcelina. Prótese é a primeira nesses moldes a ser confeccionada na região amazônica, diz hospital.
Atividades aparentemente simples como escrever o próprio nome ou escovar os cabelos podem exigir um esforço extremo a quem a vida resolveu surpreender. Mas, a mesma que aplica alguns percalços também apresenta pessoas dispostas a pensarem além de si.
Foi assim que a vida do João Victor, de 7 anos, ganhou uma ‘mãozinha’ graças a sensibilidade de Wania Evangelista, Irmã Lina e Rose Ceolin, que trabalham no Hospital Santa Marcelina, em Porto Velho.
Vendo os desafios diários do pequeno João, que usa próteses nas pernas e não tem uma das mãos, Wania conta que resolveu criar um projeto que pudesse ajudar pessoas que sofreram a perda de algum membro a recuperarem os movimentos – com a ajuda da tecnologia, no caso.
“Eu via o João todos os dias e entendi que precisava fazer algo. Eu entrava na internet e procurava pessoas que trabalhassem com próteses feitas em impressoras 3D .Foi quando alguém me apresentou um vídeo do Thiago (engenheiro mecatrônico) entregando uma prótese a uma criança. Liguei para ele e disse que tinha um projeto em Rondônia. E ele topou”, lembra Wania.
João Victor recebe a prótese de uma das irmãs do Hospital Santa Marcelina, em Porto Velho. — Foto: Pedro Bentes/G1
No entanto, a ideia tinha um alto custo. A funcionária lembra que o orçamento à implantação do projeto no hospital exigiria um investimento de R$ 60 mil. O valor foi levantado graças a doações de uma empresa privada locada na cidade. E o paciente escolhido para inaugurar o projeto foi João.
Nascido em Nova Mamoré (RO), município a cerca de 282 quilômetros de Porto Velho, o menino foi acometido por uma infecção generalizada que o deixou sem as duas pernas, os dedos da mão direita e a mão esquerda. Com próteses nos membros inferiores, faltava ainda restabelecer o movimento da mão esquerda.
Deixado aos cuidados da avó ao nascer, João foi “adotado” pelos tios Marcos Cardoso e Andriele Freitas, que acompanham desde sempre as dificuldades e conquistas do menino.
“Ele é muito apegado a mim. Desde quando ele me viu pela primeira vez no hospital, não deixou mais eu sair de perto dele. Abandonei tudo, inclusive meu serviço, para cuidar do João. Essa é a minha profissão”, explica Marcos.
Sem poderem trabalhar, o casal depende da ajuda da família e de moradores de Porto Velho para custearem o transporte e despesas diárias. A situação, segundo o tio, está mais difícil desde que a aposentadoria ao João foi negada, mesmo após realizarem todas as perícias. O casal está recorrendo da decisão na Justiça.
Marcos Cardoso cuida do sobrinho João Victor desde pequeno. — Foto: Pedro Bentes/G1
Entretanto, a vida resolveu dar uma “mãozinha” ao garoto. Na tarde da última sexta-feira (8), João ganhou uma prótese da mão esquerda personalizada com o seu herói favorito, que tem justamente nas mãos os seus superpoderes: o Homem-Aranha.
O novo acessório que passará a fazer parte da vida dele é uma conquista recente no campo da medicina e fisioterapia. Com a ajuda da tecnologia, próteses como a do João, agora, podem ser feitas a um baixo custo através de uma impressora 3D.
“Nossa startup de próteses desenvolveu aparelhos que fossem fáceis de serem utilizados e também de baixo custo. Agora estamos aqui em Porto Velho para fazermos a implantação dessa tecnologia. É uma oportunidade de multiplicarmos essa ação”, espera Thiago Jucá, engenheiro mecatrônico.
A prótese, segundo o Hospital Santa Marcelina, é a primeira nesses moldes a ser confeccionada na região amazônica. A unidade médica de saúde, vinculada a Igreja Católica, também é a única em Rondônia a oferecer o componente artificial.
Com o investimento inicial, a unidade hospitalar acredita que há material para a criação de mais 30 próteses que ainda aguardam novos donos. Para que o projeto possa crescer e beneficiar mais pessoas, Santa Marcelina conta com a ajuda da sociedade para doações que possam manter as impressoras, comprar materiais e qualificar novos operadores.
João Victor escreve o próprio nome durante sua primeira experiência com a prótese. — Foto: Pedro Bentes/G1
Enquanto isso, João terá tempo para se adaptar a prótese, praticar e descobrir que é possível retomar os movimentos com atenção e acompanhamento médicos.
Tendo interrompido a vida escolar devido a rotina médica, uma das primeiras coisas que João fez com a nova mão esquerda foi escrever seu nome, mesmo sendo destro.
“Eu não sei como é viver sem um dos membros, mas poder ver a disposição do João ao receber a prótese é uma alegria imensa. Eu sei que ele não vai mas duvidar de si. Ele vai saber que ele é capaz”, acredita Thiago.
O número para quem desejar ajudar no projeto que leva o nome do João é: (69) 3218-2211/2200
João Victor minutos antes de receber a prótese, em Porto Velho. — Foto: Pedro Bentes/G1
João Victor com fisioterapeutas durante entrega da prótese, em Porto Velho. — Foto: Pedro Bentes/G1
João Victor em sua primeira experiência com a prótese. — Foto: Pedro Bentes/G1
João Victor sendo prestigiado pela equipe médica do Hospital Santa Marcelina, em Porto Velho. — Foto: Pedro Bentes/G1
Impressora 3D em que a prótese de João Victor foi feita, em Porto Velho. — Foto: Pedro Bentes/G1
João Victor é destro, mas conseguiu escrever o próprio nome usando a nova mão esquerda. — Foto: Pedro Bentes/G1