Titular da 1ª Vara do Júri da Comarca de São Luís, o juiz Osmar Gomes dos Santos faz sua estreia na literatura nesta quinta-feira (7), quando reúne convidados, a partir das 19h, no restaurante Feijão de Corda na Avenida Litorânea, para autografar o livro “Lembranças e Emoções”.
Pelo título e a ilustração da capa, retratando garotos numa animada pelada, o autor, menino paupérrimo oriundo da Baixada, nos leva a pensar inicialmente ser uma autobiografia. Nada disso.
“Lembranças e Emoções,” na realidade é uma obra de poemas, e o escritor destaca que ali, deságua em saudades.
“São lembranças de uma infância pobre, são memórias de uma vida permeada de dificuldades. A biografia deve sair no próximo mês de setembro, mas nesse livro estão retratados, através da poesia, os percalços de um menino órfão de pai aos 4 anos de idade, mas que conseguiu superar muitos entraves através dos estudos, da luta e da perseverança”, afirmou.
A EPOPEIA DA FAMÍLIA SANTOS
Para entender as lembranças a que o magistrado se refere, é necessário conhecer sua origem e a verdadeira epopeia dele, de sua mãe, Maria Gomes dos Santos, que, aos 90 anos esbanja lucidez e dos irmãos Pedro Gomes (primogênito) que foi vereador em Cajari, Raimundo José, também ex-vereador, Lúcia Gomes, formada em matemática, Zuila Gomes, pedagoga e Jurandir Gomes, gerente de banco.
Nascido em 25 de março de 1962, no povoado Enseada Grande, no município de Cajari, Osmar ficou órfão do pai José Basílio dos Santos, quando tinha apenas 4 anos de idade em 1966. Dona Maria Gomes se viu entre a cruz e a espada, viúva e com seis filhos, teve como alternativa de sobrevivência, se transformar em quebradeira de coco.
Mas a família foi dividida, porque Pedro veio Para São Luís tentar a vida, enquanto os outros foram para casa de parentes na cidade de Matinha, ficando apenas Osmar e Zuila em Cajari, em companhia da mãe. O cenário começou a ser modificado quando Pedro, com muito sacrifício, conseguiu construir um casebre no São Francisco, por trás do Sistema Mirante.
A família voltou a se reunir, quando através de um aviso pela Rádio Difusora, no programa Debaixo do Pé do Cajueiro, apresentado pelo saudoso Jairzinho da Silva, Pedro chamava a mãe e os irmãos para virem morar na capital.
Quem nunca fez uma viagem de lancha da região da Baixada para São Luís não pode imaginar tamanha aventura. E foi alimentados pela fé e trazendo praticamente apenas a esperança na bagagem que Osmar, a mãe e os demais irmãos embarcaram, de Penalva na lancha Ribamar, de propriedade de Neném Froz para São Luís.
Uma viagem de três dias e três noites, onde os passageiros se misturam a porcos, bodes, galinhas, patos, cavalos, bois e outras mercadorias, sob um nauseabundo odor proveniente das fezes desses animais, com o cheiro de querosene e óleo. Mulheres e crianças mareadas costumam vomitar à exaustão e submetidos a um medo aterrorizante, na travessia do temido canal do Boqueirão, que serve de cemitério para dezenas de embarcações.
“Chegamos exaustos, mas felizes, porque voltamos a estar juntos”, diz Osmar, que começa à partir daí a sua história de lutas e de conquistas.
No dia seguinte teve sua primeira ocupação em São Luís. Jornaleiro, levado por um parente conhecido como Pedro Bó; diz que vendeu os jornais, Imparcial, Estado do Maranhão, Pequeno e aos domingos ia vender pão cheio na praia da Ponta D’Areia.
Também vigiava veículos após a venda dos pães cheios.
PROMOÇÃO-AJUDANTE DE PEDREIRO
Já com uma certa ironia, Osmar Gomes ressalta que aos 11 anos foi promovido para ajudante de pedreiros, tendo ajudado a erigir muitas das residências que ficam localizadas por trás do Bom Preço, na região do Renascença.
“Não me transformei em pedreiro profissional porque esse não era meu objetivo, uma vez que sempre trabalhei, mas estudava com afinco”, assinala.
O esforço nos estudos tiveram resultados rapidamente. Aos 17 anos, foi aprovado no vestibular para o curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Dos 25 aprovados, foi o único oriundo de escola pública, lembrando ter sido aluno do extinto CEMA da Avenida Kennedy, para onde ia a pé do São Francisco.
Ele foi líder e orador oficial dessa turma que iniciou em 1982 e concluiu o curso em 1986. Lembra que dela saíram muitos delegados como, Tibério, Tinoco, Joviano Furtado, Naasson Salmon, Robson Rui, além de juízes como José Américo, Joseane, Lewman Moura, além de destacados advogados que foram atuar nas mais diversificadas áreas do Direito.
“Nossa turma é destacada; eu, por exemplo, posso dizer que obtive muitas vitórias. Me casei há 33 anos com a Maria Félix, que é formada em Letras e em Direito. Nossos filhos, o Osmar Filho é advogado e vereador, se elegeu recentemente presidente da Câmara Municipal e a Bianca é advogada militante”.
CARREIRA
Visivelmente emocionado nessa conversa com o jornalista Djalma Rodrigues e o fotógrafo Ribamar Celedônio, ele lembra que após a conclusão do curso, prosseguiu estudando e foi chefe do Departamento Jurídico do Bradesco, na região Maranhão Piauí, tendo sido aprovado em concurso para o cargo de delegado de Polícia, em 1990, havendo exercido os cargos de Assessor Chefe e Coordenador de Polícia Especializada da Secretaria de Segurança.
Ainda como delegado, foi convidado, no início da década de 1990, pelo então presidente da Câmara Municipal de São Luis, o saudoso João Evangelista, para assumir o cargo de secretário chefe de Gabinete daquela casa parlamentar. Posteriormente foi procurador-adjunto daquele poder, e logo em seguida foi aprovado para o concurso de juiz. Em 1992, disputou a prefeitura de Cajari.
FILHO PRESIDENTE
O autor lembra aos interlocutores que Osmar Filho, presidente eleito da Câmara, tinha apenas 5 anos de idade e já frequentava aquela Casa, quando ele (pai), era secretário chefe de Gabinete.
Destaca que a primeira eleição dele foi com total apoio da família mas, posteriormente passou a cuidar de sua vida política, tendo sido posteriormente, o mais votado.
Foi também, secretário de Articulação Política do prefeito Edivaldo Holanda Júnior e chegou à presidência pela boa articulação entre seus pares.
O juiz Osmar Gomes, atuou em várias comarcas do interior, como é praxe na carreira, e foi a convite da então corregedora geral de Justiça, desembargadora Nelma Sarney, diretor geral do Fórum Desembargador Sarney Costa de São Luís.
Tem pós graduação em Direito Civil, Direito Constitucional, é doutorando em Ciência Jurídicas e Sociais pela (UMSA), já tendo publicado pela Editora Ática, o Manual Prático do Candidato a Cargo Eletivo. É membro da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, da Academia Ludovicense de Letras, do Instituto Brasileiro por um Planeta Verde, da Associação Brasileira de Juízes e Promotores Eleitorais e có-autor do projeto “Testemunhar é um Ato de Cidadania”- inscrito no Inovare.
Está inscrito no curso de mestrado em Garantismo e Processo Penal, da Faculdade de Girona, na Espanha. É autor de vários artigos publicados em matutinos locais.
Exemplos de luta e perseverança marcam as vitórias desse juiz, agora inserido no grupo de escritores maranhenses.
Ele acrescenta ainda que a poesia é um dos atributos que levaram São Luís a ser conhecida como a Athenas Brasileira. Além da biografia, destaca que tem outras três obras a serem lançadas muito em breve.
(Por Djalma Rodrigues)