As quatro vítimas da mesma família mortas em uma chacina em um apart-hotel na praia de Canasvieiras, foram enterradas na tarde deste domingo (8) no Cemitério Parque Jardim da Paz, no bairro Saco Grande, em Florianópolis. Segundo a delegada de Homicídios Salete Mariano, os corpos foram liberados do Instituto Médico Legal (IML) na noite de sábado (7) por meio de uma procuração.
Eram da mesma família, todos naturais de São Paulo, o viúvo e empresário Paulo Gaspar Lemos, 78, e os três filhos dele: o empresário Leandro Gaspar Lemos, 44, Paulo Gaspar Lemos Junior, 51, que tinha deficiência intelectual, e a artesã Katya Gaspar Lemos, de 50. Com exceção de Leandro, todos moravam no apart-hotel.
O velório começou por volta das 8h. Os familiares preferiram que a imprensa não acompanhasse o enterro.
Ricardo Lora, outra vítima da chacina e sócio da família, foi enterrado no sábado em Caxias do Sul (RS). A família da gaúcho também não quis se manifestar ou passar informações.
A polícia mantém a suspeita de que os assassinatos tenham sido motivados por vingança e de acerto de contas por causa de dívidas. Ninguém foi preso até esta tarde.
As vítimas foram encontradas pela polícia na sexta-feira (6). Elas estavam amarradas, de barriga para baixo e chegaram a ficar oito horas sofrendo tortura psicológica até serem mortas por asfixia.
Apreensão de documentos
Neste domingo, policiais especializados da Polícia Civil estiveram no apart-hotel. Eles apreenderam documentos das vítimas, da empresa e de bens, que estão sendo analisados pelo grupo de investigadores da Delegacia de Homicídios.
Os detalhes sobre o conteúdo apreendido não foram revelados para não atrapalhar o andamento da investigação.
Suspeita de crime por vingança
A tese de vingança continua entre os investigadores. Em uma parede, os criminosos escreveram: “Minha família foi justiçada. Enrolaram muita gente. Chegou a hora deles”.
Em outra parede, a pichação era do número 171, o artigo do Código Penal sobre estelionato. Paulo era alvo de muitos processos de cobranças em Santa Catarina e em São Paulo. O Ministério Público paulista o investigou em quatro inquéritos civis sobre estelionato.
A tese da participação de uma facção criminosa na chacina continua sendo tratada como um “blefe”, uma tentativa de enganar os investigadores.
Os criminosos levaram do apart-hotel o aparelho de gravação do sistema de monitoramento. A polícia espera que câmeras de prédios próximos ao local possam ter registrado imagens que auxiliem nas investigações.
Os dois carros que os assassinos levaram foram encontradas pela polícia e vão passar por perícia.
Família Lemos
A família Lemos era proprietária do apart-hotel, chegou a ter uma casa noturna em Florianópolis, uma produtora de eventos e possui uma corretora de seguros no nome deles. Eles também tinham negócios em São Paulo, uma revendedora de carros.
Segundo a Polícia Militar, os integrantes da família não tinham passagens criminais ligadas ao tráfico de drogas em Santa Catarina. Em São Paulo, no entanto, Paulo Gaspar Lemos responde ao menos quatro inquérito policiais por estelionato.
Paulo Gaspar Lemos chegou a responder por calúnia e difamação em Santa Catarina e Leandro Gaspart Lemos por apropriação indébita também no estado.
Paulo Gaspar Lemos Junior e Katya Gaspar Lemos não tinham passagens policiais em cidades catarinenses.
Conforme o delegado Verdi Furlanetto, diretor de Polícia da Grande Florianópolis, as dívidas da família são a hipótese principal como motivação do crime, apesar de outras não estarem descartadas.
“Nós temos algumas linhas, em decorrência do histórico da vítima. É um empresário [Paulo Gaspar Lemos], que teve problemas financeiros e tem alguns negócios que foram feitos. A partir daí é uma linha de investigação”, disse Furlanetto.
“No bojo tem todas as questões comerciais. A locadora, o hotel, ações trabalhistas. São diversas questões que envolvem. Mas com a investigação prosseguindo, como está ocorrendo, na verdade vamos achar o caminho mais objetivo e concreto”, acrescentou o delegado.
Crime
Três homens armados chegaram ao apart-hotel, na Rua Doutor José Bahia Bitencourt, na tarde de quinta-feira (5), e renderam seis pessoas. Eles estavam encapuzados e usavam luvas. Os suspeitos teriam chegado a procurar um cofre, mas não encontraram.
Uma das vítimas rendidas, funcionária do local, conseguiu fugir e acionar a polícia, que chegou ao estabelecimento por volta das 0h30, e encontrou os corpos. Havia gasolina espalhada pelos locais e não houve registro de disparo de arma de fogo.
Segundo a polícia, os criminosos não machucaram as vítimas de forma ostensiva, apesar de todos terem sido amarradas.
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