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‘Agradeço a Deus tudo que o piano me ofereceu’, diz João Carlos Martins no último concerto como pianista

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Apresentação em teatro de Piracicaba noite desta quarta-feira (19) serviu como despedida, segundo maestro. Martins iniciou carreira no instrumento aos 13 anos.

Maestro João Carlos Martins diz que deixará de se apresentar ao piano  — Foto: Rodrigo Alves/Orquestra Sinfônica de Piracicaba
Maestro João Carlos Martins diz que deixará de se apresentar ao piano — Foto: Rodrigo Alves/Orquestra Sinfônica de Piracicaba

“Agradeço a Deus e ao piano tudo que o piano me ofereceu”, disse nesta quarta-feira (19) o maestro João Carlos Martins, de 78 anos, ao se despedir das apresentações como pianista. A afirmação ocorreu durante um concerto em Piracicaba (SP). A partir de agora, o maestro afirma que apresentará exclusivamente como regente.

A despedida foi humorada e emocionante. O maestro deixa explícito que não trata com piedade as questões de saúde que o acometem. Fala com bom humor e tira risadas da plateia ao contar das dificuldades da vida representadas nas 23 cirurgias, nos problemas nas mãos e na doença degenerativa.

“Não gosto de tratar com piedade. Hoje é a última vez que estou tocando, em teatro, piano na minha vida. É claro que é um dia difícil pra mim, a dor é uma coisa violenta que eu tenho nas mãos pelo meu problema degenerativo. Fiz operação até no cérebro e consegui alguns resultados paliativos, mas finalmente vou partir para a vida só de regente.

O concerto, gratuito, lotou o Teatro Municipal Dr. Losso Netto. O maestro participou como convidado na apresentação da Orquestra Sinfônica de Piracicaba (OSP), que tem como regente Jamil Maluf, e marcou o encerramento da temporada da OSP.

Martins tocou o piano em cinco canções e regeu outra. Antes do BIS, agradeceu a plateia e aproveitou para anunciar a despedida. Sempre, no entanto, dando a ênfase à afirmação de que não gosta de tratar problemas com piedade.

“Não acho que a pessoa deva tratar com piedade um problema degenerativo. Quando foi a abertura das Paralimpíadas, que era só um piano no Maracanã, antes teve uma mesa redonda e eu falei para os atletas paraolímpicos que nós temos que tratar com humor os nossos problemas”.

Em seguida, contou que, ao perder o movimento da mão direita, aproveitava as viagens na carreira internacional, para procurar médicos, que sempre disseram que o problema não tinha cura. Com isso, passou a frequentar mais a igreja, mas não houve milagre. Depois foi a um pai de santo, que o garantiu que, em um ano, a mão direita estaria semelhante à esquerda.

Última canção de João Carlos Martins ao piano, durante apresentação em Piracicaba, foi 'Thank You', de Dave Brubeck — Foto: Rodrigo Alves/Orquestra Sinfônica de Piracicaba
Última canção de João Carlos Martins ao piano, durante apresentação em Piracicaba, foi ‘Thank You’, de Dave Brubeck — Foto: Rodrigo Alves/Orquestra Sinfônica de Piracicaba

“Ele falou ‘meu filho, não se preocupe, em um ano sua mão está igualzinha a outra’. Um ano depois fechou a esquerda”, concluiu ao fazer o público rir. Em seguida, continuou as histórias engraçadas ao revelar que, certa vez, uma repórter pediu uma foto e, ao conseguir, comemorou.

“E ela disse: ‘Finalmente consegui uma foto com o Pavarotti’. Ai eu vi como estava com a corda toda”, disse. Luciano Pavarotti é um famoso tenor italiano.

A descontração só deu lugar à voz embargada quando disse a última frase antes de voltar ao piano e continuar o espetáculo.

“Há três meses eu comecei um Instagram chamado Maestro João Carlos Martins que conta a minha vida desde os 10 anos tocando piano para que muitas pessoas da sua geração [aponta para a plateia], por a caso o Jamil acompanhou a minha carreira de pianista, saibam como que esse velho maestro conseguia tocar piano naquela época e hoje, mesmo assim, eu agradeço a Deus e ao piano tudo que o piano me ofereceu”.

BIS em forma de agradecimento

O concerto teve sete peças. Martins tocou piano em cinco. “Concerto para piano”, do Mozart; “Yesterday” e “Love of My Life”, dos Beattles e Queens; Gabriel’s Oboe, de Enio Morricone; e Libertango, de Astor Piazzolla.

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