Início Sem categoria A valente mulher que enfrentou pela primeira vez um estuprador na Justiça...

A valente mulher que enfrentou pela primeira vez um estuprador na Justiça há 50 anos

No mês passado, a atriz e diretora Asia Argento expressou seu desgosto com as críticas do público italiano depois que foram feitas acusações de estupro contra Harvey Weinstein.

Ela disse que a Itália ainda está muito atrás do resto do mundo em sua visão sobre as mulheres.

Nesse mesmo sentido, 50 anos atrás, a Itália ficou abalada pela coragem de uma mulher em desafiar o tratamento reservado ao país às vítimas de estupro – cujas lições são infelizmente ainda relevantes.

Em 1966, Franca Viola tornou-se a primeira mulher italiana a levar ao tribunal uma tradição cultural e familiar que a conduziria a se casar com seu próprio estuprador.

Com os olhos de uma nação sobre ela, a denúncia de seu estuprador tornou-se um grito de liberdade e de alerta para que outras mulheres seguissem seu exemplo.

O sequestro seguido de estupro

Franca cresceu em Alcamo, na Sicília, em uma família de agricultores.

Ela namorou Filippo Melodia, um jovem arruaceiro com conexões com a máfia já aos 20 anos, durante seis meses em 1963 antes de rejeitá-lo.

No ano seguinte ele foi para a Alemanha, e quando voltou e Franca não quis mais nada com ele, Filippo recorreu a medidas violentas, com a suposição de que a lei lhe daria guarida.

Filippo esperou até que o pai de Franca estivesse na lavoura, invadiu a casa com 15 amigos e a sequestrou. Franca foi mantida prisioneira em uma fazenda remota por mais de uma semana, quando ele a estuprou.

O casamento reparador

Tradicionalmente, havia um código que livraria o criminoso de qualquer pena se mais tarde se juntasse à vítima através de um “casamento reparador”, quando o homem seria perdoado por sua violência e a “honra” da mulher estaria restaurada.

Esta não era apenas uma tradição informal, mas sim uma exceção explícita no código penal italiano.

Mas Franca não estava muito interessada em reparar sua “honra”, senão em reconquistar sua dignidade e levou Filippo aos tribunais por sequestro, violência doméstica e intimidação.

O julgamento


O julgamento foi toda uma sensação em Alcamo e além.

Multidões reuniram-se debatendo sobre o julgamento, que mais tarde acabou sendo transmitido pelo

New York Timescom as manchetes mais paternalistas

Apesar de ser a figura central desses eventos, a narrativa pública ofuscou os pensamentos e objetivos de Franca sobre o assunto.

Reportagens de jornais da época a descreveram como “gentil”, “magra” e “bonita”, como se ela não tivesse realmente outra coisa importante a mostrar, além de sua beleza.

A condenação

Pese a toda situação de uma sociedade tradicionalista, a história repercutiu demais no mundo todo e Filippo foi finalmente condenado a 11 anos de prisão -mais tarde apelou para dez-, com sete de seus cúmplices recebendo condenações de quatro anos cada um.

A repercussão

Uma reportagem de maio de 1967 informava que Franca, a pioneira legal triunfante, parecia “destinada a ser uma solteirona pelo resto da vida“.

Em um painel de debate de um programa na televisão italiana, homens locais concordaram unanimemente que Franca tinha mostrado grande coragem, mas que nenhum deles, pessoalmente, tinha coragem de se casar com ela.

O NYTimes também observou que “Seu desafio à tradição já fora imitado por pelo menos outras quatro mulheres sicilianas”, depois de sua demanda.

No próximo ano, as manchetes não poderiam ter sido mais diferentes.

Em dezembro de 1968, em uma cerimônia realizada no início da manhã para evitar a multidão de curiosos, Franca Viola, então com 20 anos, se casou com um namoradinho de infância, Giuseppe Ruisi, de 25 anos, que era apaixonado por ela.

O presidente italiano enviou 40 dólares como presente de casamento (algo mais ou menos por volta de uns mil reais nos dias atuais) e o ministro dos Transportes do país deu aos recém-casados um mês de passeio de graça pelas ferroviárias.

O fim de Filippo

Filippo saiu da prisão em 1976, mas acabou sendo expulso da Sicília por seus próprios pares da máfia, que não viam com olhos o crime de estupro.

Como costuma acontecer com a maioria das pessoas de vida desregrada e à margem da lei, ele não durou muito tempo: dois anos depois foi morto a tiros em Modena.

Franca ainda vive em Alcamo com seu marido, dois filhos e netos.

Viola, Franca“, o filme


A cineasta italiana Marta Savina trouxe a vida de Franca em um curta-metragem de 15 minutos que foi recentemente exibido no Festival de Filmes de Tribeca.

Para Marta, ”

Viola, Franca” foi uma maneira de retratar a valentia de Franca na época. Isso é feito através da expressividade física da atriz principal Claudia Gusmano.

– “Estamos acostumados a pensar em líderes e pessoas que mudam a história como se fossem tipo de pessoas abertas”, diz Marta.

Ela quis mostrar como Franca, que vivia fora dos holofotes, continua a ser um modelo a seguir inclusive nos dias atuais.

O curta-metragem também mostra a importância dos aliados masculinos em responsabilizar outros homens por assédio e violência de gênero.

– “A família [de Franca] e seu pai realmente a apoiaram”, explica Savina.

Em dezembro de 2017, o filme será exibido em Alcamo. Será a primeira vez que Franca Viola vai se ver nas telas.

Fonte: Mashable

Matéria publicada em 06 de Novembro de 2017

Artigo anteriorFEMINICIDIO/ Homem mata a facadas companheira e enteada
Próximo artigoDF: filho briga com mãe, ateia fogo na casa dela e chamas se alastram
Jornalismo Faculdade Estácio MA Especialistas em Marketing Digital RP -19-03MA Blogueira por paixão

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui