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Irmã de Leandro Bossi diz que caso não teve desfecho: ‘À sombra do Evandro’

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A Justiça do Paraná nunca deu ênfase ao desaparecimento do Leandro. O caso dele sempre ficou à sombra do sumiço de Evandro”.

O desabafo é de Cristiane Danielle Steffen, irmã de Leandro Bossi, de 7 anos, desaparecido desde 1992, em Guaratuba (PR), após o governo do Paraná anunciar, ontem, que encontrou e identificou a ossada do garoto, trinta anos depois.

A criança sumiu durante um show no município, no dia 15 de fevereiro. Naquele mesmo ano, em 6 de abril, Evandro Caetano, de 6 anos, também desapareceu. Porém, o corpo de Evandro foi encontrado alguns dias depois, com mutilações feitas durante um ritual de magia negra. Já Leandro, desde então, era considerado desaparecido.

Cristiane conversou com o UOL sobre a confirmação foi feita com o confronto de materiais genéticos da mãe dela e do irmão.

“O pai dele vivia pelos bairros procurando o Leandro e perguntando para todo mundo se alguém tinha visto o filho. Foi só quando teve a [nova] repercussão do sumiço do Evandro que o caso veio à tona. Foi aí que ele conversou com um jornalista que estava na região e falou que também tinha um filho desaparecido”, afirma Cristiane.

Apesar da confirmação de que os fragmentos são mesmo do Leandro, a família reclama que as dúvidas ainda são muitas. O principal questionamento é com relação a uma ossada encontrada ao lado do corpo de Evandro. Na época, exames de DNA descartaram que se tratava de Leandro. A possibilidade de ser o corpo de uma menina chegou a ser levantada, mas nunca foi confirmada pelas autoridades.

“Demorou tanto tempo para isso e parece que querem [Governo do Paraná] acabar logo com esse caso, sem passar mais informações para gente. Nunca deram importância. A gente se surpreendeu com tudo e, ao mesmo tempo, estamos sem resposta e sem saber de nada. Deixaram um vazio, ainda estamos digerindo a informação e tentando entender porque demorou 30 anos para investigar tudo isso. Aquela ossada era mesmo dele? O pai dele morreu sem saber o desfecho”, conta a irmã.

Em nota, o Governo do Paraná diz que o inquérito do desaparecimento de Leandro Bossi, de 30 anos atrás, foi arquivado pelo Ministério Público, naquela época. “Informações complementares sobre o caso dependem do acesso ao inquérito”.

Ainda segundo o Estado, com informações do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), da Polícia Civil, esse é um dos 27 casos de desaparecimentos de crianças que foi solucionado no Paraná.

Nos últimos quatro anos, aproximadamente 900 casos de crianças desaparecidas foram registrados no Paraná, sendo que todos foram solucionados.

Em 2022, a Polícia Civil paranaense elucidou 100% dos casos – foram registrados 89 boletins de ocorrência e, em todos eles, as crianças foram localizadas. 26 seguem desaparecidas.

Desaparecimento de Leandro
Um ano depois do desaparecimento de Leandro, em janeiro de 1993, uma ossada, uma cueca infantil e chinelos foram encontrados pela polícia do Paraná. Os pais do menino chegaram a identificar os objetos como sendo do filho, mas uma perícia descartou a possibilidade.

Polícia Civil e Secretaria de Segurança Pública do Paraná deram detalhes sobre identificação de ossada do garoto, desaparecido em 1992
Imagem: Albari Rosa/AEN

A Polícia Civil do Paraná não informou se os restos mortais analisados atualmente eram os mesmos deste período.

Uma das polêmicas do desaparecimento do menino ocorreu no ano de 1996, quando uma criança encontrada em Itacoatiara (AM) afirmou que era o menino desaparecido quatro anos antes em Guaratuba. Na ocasião, o pai de Leandro, João Bossi, reconheceu o garoto e chegou a dizer que “caso não seja meu filho, vou adotá-lo”.

A criança chegou a ser levada até o Paraná com ajuda da Polícia Militar para se encontrar com os pais de Leandro, mas, meses depois, um exame feito por um laboratório apontou que o DNA dele era “100% diferente” do dos pais do menino. Com esse resultado, o garoto voltou ao Amazonas.

Caso Evandro; Evandro Ramos Caetano
Imagem: Divulgação

O desaparecimento de Leandro Bossi, que era filho de um pescador e uma diarista, ocorreu pouco antes do sumiço de Evandro Ramos Caetano, menino de 6 anos que sumiu no trajeto entre a casa dele e a escola.

Após alguns dias do desaparecimento, ao contrário do caso de Leandro, o corpo de Evandro foi encontrado em um matagal de Guaratuba, com órgãos arrancados e pés e mãos cortados.

Na época, um grupo foi preso acusado de sequestrar Evandro para praticar “bruxaria”. Entre essas pessoas, estavam Celina Abagge, esposa do prefeito de Guaratuba, e a filha do casal, Beatriz Abagge. O caso se arrastou por anos.

No primeiro julgamento, realizado em 1998, Beatriz e Celina foram absolvidas. O Ministério Público, no entanto, recorreu da decisão e conseguiu um novo julgamento, mas apenas Beatriz foi julgada novamente. Para a mãe, o crime prescreveu, porque ela já tinha 70 anos.

Em 2016, Beatriz conseguiu o perdão da pena pelo Tribunal de Justiça do Paraná — mesmo tendo sido condenada a 21 anos de prisão.

No ano de 2021, após o caso envolvendo a morte de Evandro e o desaparecimento de Leandro em Guaratuba ganhar fama por causa de um podcast do jornalista Ivan Mizanzuk, o governo do Paraná se responsabilizou em entregar um pedido de desculpas formal à família do garoto pela falta de conclusão do caso, cujo culpado não foi encontrado.

O governo paranaense também identificou possíveis erros no processo e na investigação do crime. A apuração mais aprofundada, com 600 páginas, foi finalizada em dezembro de 2021.

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/06/11/irma-de-leandro-bossi-diz-que-caso-nao-teve-desfecho-a-sombra-do-evandro.htm

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