O Voo VASP 375 foi uma rota comercial doméstica operada pela Viação Aérea São Paulo (VASP) utilizando um Boeing 737-317.
Em 29 de setembro de 1988, a aeronave partiu do Aeroporto Internacional de Porto Velho, em Rondônia, com destino ao Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, e previsão de quatro escalas nos aeroportos de Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.
Na fase final do voo, entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, um dos passageiros anunciou o sequestro da aeronave e ordenou os pilotos para desviar a rota em direção a Brasília, com o objetivo de colidir a aeronave contra o Palácio do Planalto, sede do Gabinete do Presidente do Brasil, devido a um descontentamento do mesmo com ações políticas adotadas pelo presidente José Sarney.[1]
O sequestrador, identificado como Raimundo Nonato Alves da Conceição e que portava um revólver calibre .32, matou o copiloto Salvador Evangelista com um tiro na nuca após este tentar contato com o controle de tráfego aéreo.
Após o sequestrador solicitar um novo desvio na rota, desta vez para São Paulo, o piloto executou uma manobra denominada “tonneau”, onde a aeronave executa um giro completo através de seu eixo longitudinal, mesmo desconhecendo se a aeronave poderia sustentar tal manobra.
A decisão de executar tal manobra ocorreu para tentar desequilibrar o sequestrador, e pousar no aeroporto de Goiânia, o que não ocorreu com sucesso então o piloto, quase sem combustível e próximo ao aeroporto de Goiânia, executou uma queda em parafuso de nove mil metros que desequilibrou e atordoou o sequestrador.
O sequestrador, após exigir uma aeronave menor para fugir, foi baleado com três tiros pela equipe de elite da Polícia Federal, vindo a falecer alguns dias depois, vítima de anemia falciforme.[2][3]
O acidente, que obteve repercussão nacional e internacional, teve sua causa principal atribuída à falta de segurança nos aeroportos brasileiros na época, que não contavam com máquinas de raios-x e detecção de metais.
O sequestro é o mais notório ocorrido no Brasil, e se deu treze anos antes dos atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos.[4]
“Tudo corria bem no voo *VASP 375 no dia 29/09/1988*, saiu de Porto Velho, Rondônia, e fez escala em Cuiabá, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte, de onde ele voaria para o Rio de Janeiro, aeroporto do Galeão, seu destino final.
Mas as coisas não aconteceram exatamente assim.
Decolando de Belo Horizonte, um passageiro se levantou e, armado com um revolver calibre .32, iniciou o sequestro da aeronave.
O passageiro, Raimundo Nonato Alves da Conceição, estava com raiva da política econômica brasileira, dos rumos do país, e por isso resolveu se vingar.
A vingança pretendida:
Sequestrar um avião e jogá-lo contra o Palácio do Planalto, bem no local onde fica o gabinete do Presidente.
Com isso, Raimundo pretendia matar aquele que ele considerava o grande vilão da história: Jose Sarney.
Pode parecer piada, mas a coisa foi feia.
Exigindo que a porta da cabine fosse aberta, Raimundo atirou em um comissário.
Com a porta ainda trancada, Raimundo começou a atirar contra a cabine (as portas ainda não eram blindadas).
Um tiro acertou o piloto reserva na perna, fraturando-a.
O outro, acertou o painel.
Diante do risco que representava aquele homem atirando a esmo dentro de uma aeronave em pleno voo, o piloto abriu a porta e Raimundo anunciou seu plano, que representava a morte dos 98 passageiros e 7 tripulantes, fora possíveis vítimas em terra.
O piloto, Fernando Murilo de Lima e Silva, conseguiu avisar sobre o sequestro, acionando, o transponder da aeronave, o código que indica interferência ilícita.
Também conseguiu informar a torre de comando acerca dos planos envolvendo a Palácio do Planalto.
Nesse momento, a 1ª vítima fatal do sequestro.
Quando a torre responde ao piloto, foi o co-piloto, Salvador Evangelista, quem fez menção de responder.
Provavelmente, um movimento brusco foi interpretado como reação.
O co-piloto foi morto na hora com um tiro na nuca.
Com dois colegas baleados, um colega morto, surge o sangue frio e a perspicácia do grande herói dessa história: o piloto Fernando.
Ele percebeu que morrer seria inevitável, então começou um perigoso processo de convencimento com o sequestrador em busca de uma improvável solução.
Durante todo esse período, o Voo VASP 375 era seguido de perto por caças Mirage da FA, que tinham ordens de abater o voo, sacrificando os passageiros, caso surgissem indicações de que a aeronave seria usada contra algum prédio da capital.
Nesse ponto, o sequestrador toma outra decisão: exigiu que rumassem para São Paulo, provavelmente em busca de outro alvo.
O piloto Fernando novamente argumentou que o avião não tinha combustível para tanto.
Sugeriu então um pouso no Santa Genoveva, em Goiânia.
Enquanto a discussão se dava entre os dois, o piloto Fernando, disfarçadamente, rumou para Goiânia, afastando o avião de Brasília, cheia de potenciais alvos.
Por fim, diante da recusa de pousar em Goiânia, e das ameaças que só faziam crescer, o piloto tomou mais uma decisão.
Primeiro, ele tirou o avião do piloto automático e fez uma manobra chamada tonneau (manobra em que o avião dá uma volta completa ao redor de seu eixo).
Ele pretendia, com isso, fazer o sequestrador cair e, assim, tomar a arma dele, mas isso não deu certo.
Depois, ele partiu para a cartada final: o parafuso, manobra em que o avião perde a sustentação e cai de bico, girando as asas como um pião.
A ideia do piloto era descer 9 mil pés durante a manobra, fazer o sequestrador cair e imediatamente efetuar o pouso em Goiânia.
Anos depois, Fernando falou:
“Eu pensei, como vou morrer mesmo, vou arriscar. Parti para o tudo ou nada. Já que vou morrer, vou morrer brigando porque, pelo visto, ele não ia me deixar pousar.”
Fernando conseguiu fazer cair o sequestrador e pousar com tranquilidade.
Mas ele logo se recuperou e seguiu com o sequestro.
Era perto de 13h45 quando o pouso ocorreu.
Em terra, as negociações continuaram. O aeroporto foi cercado por agentes do EB e da PF, que quase invadiram a aeronave, mas foi, novamente, o piloto Fernando quem deu rumo às coisas.
Ele convenceu o sequestrador a pedir um avião menor, com bastante combustível, e com essa 2ª aeronave, ir em busca de sua vingança.
O sequestrador aceitou, mas exigiu que Fernando seguisse pilotando, o que o piloto aceitou.
Sua vida em trocar de 103 sobreviventes.
Todos os feridos foram atendidos em hospitais de Goiânia.
Nessa nova negociação, o sequestrador foi baleado pela equipe especial da Polícia Federal.
Fernando, o piloto reserva e o comissário baleado não corriam risco de morte.
Nem o sequestrador, nas informações prestadas pelo hospital. Misteriosamente, 3 dias depois, Raimundo Nonato morreu de forma estranha, segundo consta, foi vítima de anemia falsiforme.
No fim, o piloto Fernando, grande herói do sequestro, conseguiu salvar 104 vidas e evitou que tivéssemos um 11 de setembro muito antes das Torres Gêmeas.
Por seu feito, foi condecorado com a Ordem do Mérito Aeronáutico, a mais alta distinção honorífica do Comando da Aeronáutica.
Contudo, nunca recebeu qualquer palavra de agradecimento do Presidente Sarney, que se quedou calado acerca do sequestro.
_“Ele nunca me dirigiu a palavra. Nunca me agradeceu. Mas não tenho mágoa. Estou tranquilo com minha consciência e sei que fiz meu papel”_
E, até hoje, as manobras que o piloto Fernando efetuou naquele 29/09/1988 não são reconhecidas pela Boeing, que afirma categoricamente SER IMPOSSÍVEL FAZÊ-LAS EM UM BOEING 737-317.
O capitão Fernando provou serem possíveis.
É que esse herói pouco conhecido, o piloto Fernando, morreu ontem, em Búzios, aos 76 anos de idade.
Morreu com o crédito enorme de ter salvado 104 vidas e de ter agido, quando muitos não fariam nada.
Por isso, essa singela homenagem.
Que o comandante Fernando vá em paz, e que fique sua lição de altruísmo, em tempos tão duros de egoísmo e individualismo”.